Por séculos que o dogmatismo religioso defendeu algumas teorias sobre o mundo que estavam desfasadas da realidade, por exemplo, quantos anos a terra tinha (4.000 anos) ou quantos sóis havia no universo (1).
Mas, na realidade, o princípio religioso nunca foi realmente fazer o tipo de coisas que o rigor científico pretende. No fundo, a missão é totalmente diferente: as histórias presentes nestes dogmas religiosos servem para tornar a vida mais suportável, para nos dar algo a que nos agarrar para nos ajudar a chegar ao dia seguinte.
Ao mesmo tempo, o campo científico - visto de maneira apropriada - nunca se opôs ao enriquecimento espiritual. Pode conter premissas tão consoladoras e inspiradoras quanto aquelas encontradas na religião.
Podemos recorrer ao conhecimento científico para o tipo de ideias que costumamos procurar no campo religioso. Aqui estão algumas das grandes ideias consoladoras que podem ser encontradas no mundo da ciência:
I: É tudo uma questão de perspectiva
Corremos um risco permanente - nas condições que temos na vida moderna - de perder a perspectiva, isto é, de fazer com que nossos problemas e medos sejam mais graves do que o realmente são. Um dos grandes benefícios do mundo científico é que ajuda-nos a nos sentir pequenos! A doutrina científica ensina-nos que a nossa galáxia, a Via Láctea, tem aproximadamente 100 bilhões de estrelas, que existem 10 bilhões de galáxias no universo observável, cada uma contendo uma média de 100 bilhões de estrelas, o que significa que existem cerca de 1 bilhão de trilhões de estrelas lá fora. Quando perdemos a perspectiva, como invariavelmente fazemos no decorrer de quase todos os dias nas nossas rotinas frenéticas, devemos passar alguns momentos com uma fotografia do telescópio Hubble e recordar que somos - de uma forma gloriosa e redentora - o que sempre tememos ser: nada.
II: “Vaidade de Vaidade, Tudo é Vaidade”
Muitos dos nossos esforços são projetados para nos perpetuar no tempo. Nós esforçamo-nos para viver através do nosso trabalho - e para fazer algo mais duradouro do que o nosso eu biológico. Para livrar-nos desta loucura extenuante, as religiões costumam nos lembrar gentilmente, das palavras do Rei Salomão escritas na bíblia, “Vaidade de Vaidade, Tudo é Vaidade”. O conhecimento científico oferece-nos uma expressão ainda mais poderosa desse conceito bíblico: a segunda lei da termodinâmica. Esta lei afirma que a tendência de todos os sistemas - dos quais o universo é composto - é dissipar energia ao longo do tempo até atingir um estado de repouso completo. Dado um intervalo suficiente de tempo, o nosso universo e os seus superaglomerados de galáxias entrarão em colapso e entraremos no que os cientistas chamam de 'Era das Trevas', na qual - depois de tanta excitação, individual e cósmica - nada restará, exceto o gás bastante diluído de partículas . A situação não é melhor perto de 'casa'. Daqui a 4 bilhões de anos, quando o sol ficar sem hidrogénio, vai se tornar numa 'gigante vermelha', possivelmente expandindo-se até Marte, momento em que vai absorver e destruir a Terra. Tudo é vaidade mesmo.
III: Estamos num bom caminho
Muitas vezes, é profundamente tentador perder a paciência connosco e com os nossos semelhantes: por que não podemos ser mais razoáveis? Por que somos tão preconceituosos? Por que somos tão propensos à ansiedade? É igualmente tentador procurar explicações que enfatizem a nossa natureza vil e então condenar duramente a nossa falta de auto-controlo. Acabamos por ficar com repulsa de nós mesmos e acabamos por julgar os outros. Mas o conhecimento científico pode nos ensinar a arte do perdão e libertar-nos da nossa necessidade de criticar. É claro que não estamos adaptados de forma ideal às vidas civilizadas e complexas que aspiramos ter. Tivemos muito pouco tempo para fazer outra coisa. Segundo informação científica, aparecemos mais ou menos na nossa forma atual em África, há 200.000 anos atrás. Na maior parte desse tempo, vivíamos em pequenos grupos, pilhávamos, grunhíamos, não esperávamos que os outros parassem de falar, discutíamos constantemente e tínhamos medo de tudo. O tempo desde o nascimento de Jesus compreende 1% da nossa história; nos últimos 250 anos, período desde que nos urbanizamos e passamos a conviver com a tecnologia, é de apenas 0,1%. Naturalmente, portanto, a maioria dos nossos impulsos será mais adequada a condições mais básicas de vida. É um milagre conseguirmos ser educados, explicar os nossos sentimentos ou vê-los do ponto de vista de outra pessoa. Estamos - do ponto de vista do campo científico - a caminhar extremamente bem. A história evolutiva ensina-nos que os humanos deveriam ser muito piores do que são. A maravilha não é que sejamos tão incivilizados, mas que conseguimos, de vez em quando, ter alguns momentos de civilização.
IV: Gratidão pela nossa existência
Os ensinamentos científicos são perfeitamente capazes de nutrir sentimentos de gratidão por causa de uma verdade básica sobre a maneira como a gratidão funciona: esta tem origem na consciência de como as coisas poderiam ter sido muito piores. E aqui, quando se trata da nossa vida no planeta, o método científico defende que pelo que temos, deveríamos ser gratos. Por exemplo, podemos ser gratos:
- Que há 13,8 bilhões de anos atrás, algo menor do que um eletrão escolheu inchar numa fração de segundo, como um balão em expansão com uma energia de 93 bilhões de anos-luz de tamanho que agora chamamos desajeitadamente de universo;
- Que gravidade uniu as estrelas para criar galáxias, incluindo - fortuitamente - a Via Láctea;
- Que mais ou menos na mesma época, enxames de destroços colidiram para formar o nosso planeta - uma rocha inabitável lavada por lava, que a gravidade colocou em órbita como o terceiro planeta do nosso sistema solar - a distância exata para o desenvolvimento de vida;
- Que aquele outro planeta, Theia, colidiu com a Terra, presenteando-nos com a nossa Lua, que desacelerou a rotação da Terra, estabilizou as condições atmosféricas e criou o dia de 24 horas e fez com que a Terra se inclinasse, formando assim as estações;
- Que as partículas de gelo que sobraram das colisões de centenas de cometas derreteram, o vapor de água condensou-se e os oceanos formaram-se;
- Que aquelas colisões de cometas entregaram outro presente, os componentes essenciais da vida e do DNA como o dióxido de carbono, os aminoácidos e o fósforo;
- Que aquelas fontes termais subaquáticas libertaram a quantidade certa de energia e a mistura certa de produtos químicos para permitir que os primeiros organismos unicelulares se formassem há 4 bilhões de anos;
- Que a atmosfera tóxica da Terra de metano e dióxido de carbono lentamente se tornou adoçada pela libertação de oxigénio das cianobactérias - as primeiras criaturas a fazer fotossíntese - e que gradualmente oxigenaram 85% da atmosfera;
- Que um asteroide de 15 quilômetros de largura atingiu a Terra há 65,5 milhões de anos atrás e destruiu a maioria dos organismos terrestres, incluindo todos os dinossauros, mas criou condições ideais nas quais alguns pequenos mamíferos, nossos ancestrais, foram capazes de sobreviver com menos 'competição';
- Que os genes dos nossos ancestrais conseguiram passar com segurança pela cadeia ininterrupta de 10.000 gerações, apesar dos melhores esforços dos predadores e de uma enxurrada constante de vírus;
- Que em média uma mulher fértil terá 100.000 óvulos, e um homem produzirá um trilião de espermatozóides, cada um deles muito diferente, mas mesmo assim - nós conseguimos sair das opções como somos;
E a tudo isto, como se diz nas igrejas, podemos gritar: Aleluia!
Concluímos que há ciência suficiente para dar origem a vinte religiões - há tanto para adorar, para ser admirado e consolado por meio de coisas como a matéria negra, String Theory ou física quântica. A maldição do mundo moderno é não ter compreendido o mundo científico; ainda não entendeu todas as coisas incríveis que ainda podemos fazer com ele.