Duas palavras, que para muitos, dependem uma da outra, mas que na realidade são muito diferentes naquilo que representam. Quando me refiro a palavra espiritualidade, refiro-me mais a nossa essência e personalidade como seres, e não ao espiritismo e esoterismo que pode estar associado.
Há certos tópicos e assuntos que a nossa razão não tem capacidade de resolver e aí a nossa consciência tem um papel fundamental. Se há agressividade, raiva e rancor, isso reflete que há uma probreza espiritual enorme. O contrário como a humildade, a solidariedade e a compreensão mostram uma enorme riqueza espiritual. Esta espiritualidade não depende de nenhuma crença, ela é demonstrada exclusivamente na nossa conduta como indivíduos, como nos comportamos, como tratamos quem nos rodeia, que sentimentos provocamos a nós mesmos e aos demais. Alguém que seja rico em espírito pode acreditar no cristianismo, no budismo ou em nada, pois a espiritualidade não depende da crença, só se manifesta na nossa conduta. Existir algo superior que demande crença é algo muito deturpado, pois o nosso raciocínio serve para duvidar e em certas coisas mais vale a dúvida do que a certeza precária pois corremos o risco de tentar explicar e perceber algo que a nossa razão não alcança.
A espiritualidade não é razão mas sim emoção e sentimento e quando tentamos introduzir a razão na equação, acabamos por criar certezas e verdades improváveis.
Se nossa intuição nos diz que temos uma consciência atenta, que trabalhamos nela, que a valorizamos, que não a enganamos e que ela prova as nossas atitudes é porque estamos bem com a nossa espiritualidade.
As situações em que vemos que existe um pregar de certezas, de intolerância e arrogância é sem duvida um caso de espiritualidade precária. Um individuo que tenha sabedoria, humildade e compreensão, que seja rico de espírito pode ser ateu ou religioso. Ser religioso é abraçar uma verdade com unhas e dentes, e isso não é necessário para ter espiritualidade, bem pelo contrário, ter espiritualidade é reconhecer a dúvida, aprender quando podemos aprender, saber que há certas coisas que vão além da nossa compreensão e saber viver bem com isso, e claro que a espiritualidade é um desenvolvimento permanente e não constante.
A religião num modo racional e explicativo, tem tendência a perder força, porque quando percebemos que sentir é mais do que saber, que a intuição vai muito mais longe do que a razão e que a nossa razão tem limites muito curtos nesta existência, entendemos que o sentimento, embora não cubra tudo, vai mais longe, por isso o sentimento neste aspeto deve tomar conta.
A religião é necessária por causa do nosso primitivismo, que por muito que a evolução tenha sido enorme no ultimo milénio, ainda existirá uma parte de nós que será primitiva. Tem que existir um limite para o egocentrismo, para a ganância e aí a religião tem um papel importante de dizer que isso é punível, assim como a prática do bem ser premiada. Isso tem como consequência, ensinar a praticar o bem por interesse assim como provocar medo a quem não o faz. Isso é necessário, porque caímos no risco de viver num mundo em que o bem se tornaria ainda mais raro de ser praticado. Por isso a religião é necessária por causa do nosso primitivismo espiritual. A indiferença ao mal que podemos estar a fazer a quem nos rodeia mostra um primitivismo enorme. Quando aprendemos que fazer o bem é tão bom para nós como para os outros, quando chegarmos a um ponto em que nos desagrada fazer o mal a alguém, não pela consequência que isso possa ter mas sim por tentar ao máximo evitar que o mal seja uma consequência dos nossos atos, já não usamos a religião mas sim a nossa espiritualidade, já somos os nossos próprios bem-feitores, punidores e pregadores.
A religião moraliza a nossa mente, a espiritualidade liberta a nossa consciência.