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2020. Antes e Depois.
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Política
18/04/2020
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O ano de 2020 marca um ponto de viragem na política portuguesa. A crise de saúde pública que atravessámos, deixará cicatrizes na sociedade. Será um corte temporal a vários níveis. Economicamente, marca o fim de um período de crescimento económico iniciado em 2014, ainda no rescaldo de um programa de assistência financeira a que Portugal ficou sujeito após a crise financeira de 2008 e a crise da dívida soberana de 2011. O período de 2014 até aos dias hoje, embora marcado pela melhoria de vários indicadores (PIB, desemprego, entre outros), não funcionou como catalisador de mudanças estruturais. Com a honrosa excepção do crescimento das exportações (que hoje representam praticamente 45% do PIB), mantêm-se debilidades velhas conhecidas como a elevada dívida pública, políticas fiscais flutuantes e fortemente penalizadoras do investimento privado (Portugal tem das maiores taxas de IRC da UE), ausência de ferrovia com densidade, ausência de políticas de habitação, carga fiscal globalmente elevada e fortemente penalizadora dos rendimentos médios ao nível do IRS, pouca diversificação por sectores com peso desproporcional do turismo por contraposição a indústrias de produção de bens de valor acrescentado (e as poucas que temos são em boa parte multinacionais estrangeiras com a VW, Bosch e Continental).

As recentes estimativas do FMI para Portugal, no seguimento da paragem de parte da economia imposta pelo coronavírus, apontam para uma quebra anual do PIB a rondar os 8% e uma subida da taxa de desemprego para perto dos 14%. Ou seja, uma placagem económica e social. O Estado Português, tal como os seus congéneres, irá sofrer por duas vias: queda abrupta da receita fiscal e necessidade de financiamento imediato do tecido empresarial, da qual o lay-off simplificado é a medida bandeira. Embora numa primeira abordagem, António Costa negue qualquer solução de austeridade, a verdade é que ela sempre esteve cá. A carga fiscal total em 2019 atingiu níveis recordes. Será quase inevitável aumentar ainda mais. Podem mudar-lhe o nome para recuperação ou solidariedade, mas os contribuintes vão ser chamados a pagar. Politicamente, a relação do PS com os partidos à sua esquerda ficará muito fragilizada. PCP e BE sofreriam uma erosão profunda do seu eleitorado se servirem de muletas a cortes na despesa ou aumento de impostos. PSD e CDS poderão inicialmente suportar o governo no parlamento, mas dificilmente estenderão uma passadeira rosa. Ainda assim, não é de descartar que este governo chegue ao fim do mandato: dificilmente alguém encontrará soluções diferentes, a menos que o impacto seja mais profundo que o horizonte de 2021.

A própria evolução da pandemia permanece uma incógnita em muitos aspectos. Sabemos que pese embora isso, o comportamento e as atitudes dos indivíduos levarão bastante tempo a regressar ao normal, pelo que várias indústrias poderão ser afectadas para lá de 2021. No caso português, o turismo, com a hotelaria e a restauração à cabeça.

Estruturalmente não estávamos preparados para um embate destes, nem Estado nem famílias. O primeiro não tem margem para se endividar muito mais, os segundos nem o poderão tentar fazer. Caso a UE não permita algum tipo de mutualização e partilha de custos, vejo com alguma apreensão as dívidas soberanas de Itália, Grécia e Portugal. Se à crise actual tivermos que somar uma crise do Euro, 2020 vai fazer 2008 parecer ele sim um cisne negro.

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